Emigrante
Todas as tardes o poente dobra
o teu polegar sobre a ilha
E do poente ao polegar
cresce
um progresso de pedra morta
Que a Península
Ainda bebe
Pela taça da colónia
Todo o sangue do teu corpo peregrino
Mas quando a tua voz
for onda no violão da praia
E a terra do rosto E o rosto da terra
Estender-te a palma da mão
Da oral maritima di ilha
De pão & pão feita
Ajunturás a última fome
à tua fome primeira
Do alto virão
rostos-e-proas-da-não-viagem
Assim erva assim mercuro
Arrancar-te as cruzes do corpo
O grito das mães leva-te
agora
À sétima esquina
onde a ilha naufraga
onde a ilha festaja
A sua dor de filha
E a tua dor de parturiente
Que toda a partida É potência na morte
todo o regresso É infância que soletra
Já não esperamos o metabolismo
Polme de boa fruta fruta de boa polpa
A terra
aspira
teu falo verde
E antes que teu pé
seja
árvore na colina
E tua mão
cante
lua nova em meu ventre
Vai E planta
na boca d’Amílcar morto
Este punhado de agrião
E solver golo a golo
uma fonética de frescura
E com as vírgulas da rua
com as sílabas de porta em porta
Varrerás antes da noite
Os caminhos que vão
até às escolas nocturnas
Que toda a partida é alfabeto que nasce
todo o regresso é nação que soletra
Aguardam-te
os cães e os leitões
da casa de Chota
que no quintal emagrecem de morabeza
Aguardam-te
os copos E a semântica das tabernas
Aguardem-te
as alimárias
amordaçadas de aplauso e cana-de-açúcar
Aguardam-te
os rostos que explodem
no sangue das formigas
novos campos de pastorícia
Mas
quando o teu corpo
sangue & lenhite de puro cio
Erguer
Sobre a seara
A tua dor
E o teu orgasmo
Quem não soube
Quem não sabe
Emigrante
Que toda a partida É potência na morte
E todo o regresso É infância que soletra